31 de Outubro, Dia da Reforma, 2025

 

Olá, amigos, sejam descrentes, mais-ou-menos, ou até mesmo crentes.

Como muitos de vocês sabem, os últimos anos têm sido bastante penosos, do ponto de vista financeiro, do sustento do dia-a-dia. Desde que em 2017 entrei no “vórtice do desemprego”, as coisas nunca mais se “endireitaram” e tudo parece ser a ferros, não obstante os esforços. As razões são várias: idade avançada, pouquíssima escolaridade, um bocadinho de “azar” e, especialmente alguns erros da minha parte, têm contribuido para esta situação. Tenho andado a saltitar de emprego precário em subsídio de desemprego, on-n-off, até que, no último ano e meio tenho estado como “empresário em nome individual” – Fancy words para “desempregado-ocupado”. Até a Inteligência Artificial parece ter escolhido esta década para vir infernizar a vida dos gráficos…

Se por um lado esta situação foi e é difícil para mim e para a V., por outro tem sido uma fonte de experiências pessoais que não estão à venda e das quais jamais me tentaria livrar ou desviar se pudesse voltar atrás. Pensando bem, (apesar dos erros, que sempre serão erros,) não trocava por nada, o que temos passado juntos: Já tinha aprendido no passado que só a dor nos pode fazer crescer.

E, sendo eu “rato-de-igreja”, nestes desertos surge sempre a pergunta: “E Deus? Porque é que Deus me deixa passar por isto?” A resposta é sempre difícil. Na verdade, à questão do sofrimento é quase impossível de ter resposta, mas, paulatinamente, da experiência da oração e leitura bíblica, regada de risos, lágrimas e gargalhadas, vêm pequenas golfadas de respostas que me têm ajudado.

A metáfora é uma floresta, sendo a floresta a minha vida. Uma densa floresta à minha frente que terei de cortar para aí construir alguma coisa. Cada árvore é um problema e um pedido a Deus, cada árvore cortada é uma resposta, ou algo finalmente entendido. (Perdoem-me os mais eco, mas é apenas uma metáfora. – Não tenho qualquer plano de destruir uma floresta.) Então, em 2017, peguei no machado e comecei a tarefa. Nessa altura ainda não sabia que era um floresta. Ainda pensava que umas arvorezitas seriam a ponte para o sucesso. Afinal, eu sou “filho de Deus”, certo?

E começou a descida. Nem dá para contar o número de vezes que quis afiar o machado e não tinha como. Houve tempos em que nem árvores caíam nem o machado me estava nas mãos. Só a dor.

Mas nunca faltou nada e posso explicar. A V. nunca deixou de ter salário. Falo de barriga cheia, sim. Sou, em boa parte, sustentado pela minha mulher e talvez não haja maior e mais produtiva humilhação. Não havia nem há luxos. Bem, além de termos café, não há luxos se descontarmos o caso de termos casa própria, e termos saúde, apesar de os anos começarem a pesar. Mas… há mais luxos, sim.

Neste tempo de “humilhação”, um homem “inventou” um biscate mensal só para ter de me pagar; outro está sempre a ter ideias para logotipos que ele “precisa”; outro estava mesmo “a precisar” de um quadro com um cartoon feito por mim… Um desses ofereceu-me um computador que me tem servido nos últimos anos (agora a tecla “delete” morreu, e as de “control”, “5”, “6”, “F2”, “F8” e “F9” insistem em trabalhar só quando querem, devido aos quilómetros – mas segue vivo!); família contribuiu para podermos comprar o precioso carro velho que temos, ou para arranjos mecânicos; alguém ofereceu o combustível; alguém ofereceu um sofá, uma carpete ou um telemóvel; alguém pagou um almoço; alguém pagou o alojamento deste site; alguém trouxe o vinho; alguém pagou outro almoço; alguém pagou um jantar; alguém ofereceu peixe; alguém trouxe figos; alguém, sem que saibamos quem, pagou o abate do nosso cão doente de forma milagrosa; outros ofereceram-nos uma PS; alguém, simplesmente, depositou dinheiro na nossa conta; no Verão passado, um casal amigo de longa data pagou-nos uma viagem de férias a Inglaterra para os visitarmos… Noutra ocasião, num tempo em que nem gastava dinheiro numa bica, um amigo ofereceu-me um convite de camarote para o futebol, com camarão à descrição…

Reparem que isto foi só “um cheirinho”, sem detalhes. Conto-vos isto, esquecendo-me de outras, muitas mais histórias, que me têm provado dia após dia e inequivocamente, que Deus nunca deixou de olhar por nós. Em todo este tempo, nunca faltaram bons amigos, boa família ou boa igreja. Nunca faltou nada!

Por causa de todas estas coisas – ano após ano, “árvore após árvore”, o desgaste foi evidente. Chegou o tempo em que toda a floresta tinha desaparecido. Bem, toda menos uma enorme árvore, no meio de uma imensa clareira, que muitos homens de mãos dadas não podiam abraçar. A árvore do “PORQUÊ? Porque não saio do sítio?…”

Através de uma situação que envolve milagres combinados, fui obrigado a perceber que eu tenho um problema bastante profundo sobre “dinheiro” (eu pensava que não, que era um tipo desprovido dessas limitações); e, acima de tudo, tristemente, que sou uma pessoa muito mais egocêntrica do que esperava. O meu amor narcísico à minha “arte/carreira” e “sucesso” eram, afinal, muito mais importantes do que eu próprio podia esperar ou perceber.

E este foi o ponto de viragem, o tempo em que finalmente fui obrigado a perceber que a auto-suficiência é uma ilusão, e já lá vão dois anos e meio. Quando comecei a largar mão daquilo que, afinal, só me puxava para baixo, quando passei a levar a sério as palavras de Jesus que diziam “Não andem ansiosos por coisa alguma.” a minha vida virou do avesso. Com lado bom para fora e com lado bom para dentro, quero eu dizer.

Os problemas continuam os mesmos; o insucesso (relativo) continua; as dificuldades continuam. Na verdade, nunca me foi dada qualquer garantia de que “os meus problemas”, sejam eles quais forem, alguma vez se resolverão. A única garantia que recebi, a árvore gigantesca caíndo com estrondo, é de que a companhia do Mestre nunca me faltará, ainda que eu não o possa ver, tal como não posso ver o vento, mas sentido os seus efeitos, tal como sinto os efeitos do vento. A antiga floresta deu lugar à obra do Trono do Mestre!

Este é o meu “testemunho” (sempre detestei esta palavra) de cristão. A única razão porque vos envio esta “carta” é porque convido a todos a juntarem-se a mim, a quererem ser seguidores de Jesus Cristo. Para sua glória, mas também para nosso contentamento. Noutros tempos teria vergonha de abordar o assunto e diria que não vos queria aborrecer com as minhas coisas transcendentes. Mas agora, chegando a aquela idade em que digo tudo o que me vem à cabeça, como os malucos, e que me estou marimbando para “o que é que os outros vão pensar de mim”, refugio-me na ideia de que gosto demais de vocês para guardar para mim o segredo da vida.

Melhores explicações? Aqui vai o episódio 5 de “Jesus: Refugee, Renegade, Redeemer”, do famoso Bear Grylls, e de que gostei muito. Aconselho a série completa, claro. É só clicar.

Jesus: Refugee, Renegade, Redeemer

 

Soli Deo Gloria